Os diferentes tipos de inveja

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Imagem: Google

ou: como me doeu Paris mais que um chá revelação

Hoje foi um dia atípico. Saí da minha rotina isolada — composta basicamente por álcool, autopreservação e solitude — e fui passar o final de semana em família.

Mais tarde, scrollando pelo Instagram, vi um ex-colega de trabalho postar um vídeo fofo de chá revelação. Spoiler: fumaça rosa.

Lembrei de quando ele começou a se encantar por essa moça da igreja. Ele dizia que ela era especial demais, que talvez ele não estivesse à altura. Spoiler dois: ele criou coragem, pediu em namoro, ela aceitou. Casaram depois, como manda o script: civil, igreja, família reunida, tapete vermelho da vida tradicional. Agora, a evolução natural da espécie: a paternidade.

Achei lindo, de verdade. Mas — sempre tem um mas.

O que realmente me atravessou foi ver, num story perdido de domingo, uma amiga muito querida passeando pelas ruas de Paris. Aquela viagem que sonhamos fazer juntas.
Hoje, ela foi com outra.
Outra amiga que talvez tenha mais condições, proximidade, mais tempo, mais... presença. Uma substituta à altura. Ou até melhor.

Doeu. Mas foi outro tipo de dor.

Mais cedo, na roda de conversa da família, falamos sobre filhos. E eu tive certeza: esse tópico não move nada em mim. Não há faísca, nem desejo. Nunca me imaginei grávida fazendo ensaio de barrigão segurando sapatinho, com filtro sépia e legenda bíblica.

Não é julgamento. É ausência.

O que faz meu coração disparar é aeroporto. É mapa. É passaporte carimbado. É vinho francês com nome que não sei pronunciar.
É escrever em um café em Montmartre, com vista para a vida que sempre sonhei.

E foi aí que entendi:
há diferentes tipos de inveja.
Aquela que dói pela ausência de algo que nunca desejei…
E aquela que sangra por tudo que ainda não vivi — mas sei que me pertence.