ou: como me doeu Paris mais que um chá revelação
Hoje foi um dia atípico. Saí da minha rotina isolada — composta basicamente por álcool, autopreservação e solitude — e fui passar o final de semana em família.
Mais tarde, scrollando pelo Instagram, vi um ex-colega de trabalho postar um vídeo fofo de chá revelação. Spoiler: fumaça rosa.
Lembrei de quando ele começou a se encantar por essa moça da igreja. Ele dizia que ela era especial demais, que talvez ele não estivesse à altura. Spoiler dois: ele criou coragem, pediu em namoro, ela aceitou. Casaram depois, como manda o script: civil, igreja, família reunida, tapete vermelho da vida tradicional. Agora, a evolução natural da espécie: a paternidade.
Achei lindo, de verdade. Mas — sempre tem um mas.
Doeu. Mas foi outro tipo de dor.
Mais cedo, na roda de conversa da família, falamos sobre filhos. E eu tive certeza: esse tópico não move nada em mim. Não há faísca, nem desejo. Nunca me imaginei grávida fazendo ensaio de barrigão segurando sapatinho, com filtro sépia e legenda bíblica.
Não é julgamento. É ausência.