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Qual o preço de um sonho? Quantas lágrimas preciso derramar até conseguir conquistar os meus?

quarta-feira, 23 de julho de 2025



Qual o preço de um sonho?

Quantas vezes precisei juntar os cacos do que sobrou de mim,
quando a esperança escorregava pelos dedos como areia molhada
e o mundo parecia rir da minha fé teimosa?

Quantas vezes caminhei no escuro,
com os joelhos ralados e o coração em silêncio,
mas ainda assim, indo.
Ainda assim, sentindo.

Às vezes me pergunto:
qual é o preço de um sonho?
Será medido em noites sem dormir,
em lágrimas escondidas no travesseiro,
em portas fechadas na minha cara
ou em todos os "não" que engoli com a garganta seca?

A verdade é que ninguém te conta
que sonhar é um ato de resistência.
Que acreditar, mesmo depois da queda,
é coragem rara —
daquelas que não se aprende, se nasce.
Ou se forja na dor.

Porque eu sangro, sim.
Mas cada cicatriz minha tem nome, data, aprendizado.
Cada tropeço me ensina a olhar mais fundo,
mais dentro,
mais em mim.

E se doeu? Doeu.
Se desisti? Nunca.
Porque há uma voz que ecoa suave — mas firme — dentro de mim:
“Você nasceu para florescer, mesmo no concreto.”

Então me ergo.
De novo.
Quantas vezes for preciso.
Porque meu sonho não é luxo.
É urgência.
É verdade.
É raiz.

E quem tenta calar essa voz
não sabe que ela arde —
mas também me guia.

Eu sigo.
Com medo, com cansaço,
mas com a certeza de que o impossível é só o começo
daquilo que já mora em mim.

When Two Hearts Sync: The Magic of First Love

segunda-feira, 21 de julho de 2025

A poetic reflection on young love — the secret glances, the hand-holding, and the sweetness of discovering romance for the first time.

Young lovers. Dripping in youth and the kind of chemistry that turns the air electric. They giggle in code, share glances that still carry the softness of childhood, freshly shed. There's something sacred about witnessing a first love bloom.

At 18, love is new. Weightless. Untamed. It doesn't yet know the scars of time. It’s the warm brush of hands that meet for the first time — on the way to school, on a lazy afternoon bench. It’s sparkling eyes that say more than a thousand words, with no need for captions.

They hold hands like they’re holding the entire universe — small, safe, enough. Whispering things no one else can understand, laughing like they invented a secret language — the language of love. The kind that’s just beginning to learn how to give, how to open up, how to lose and find oneself in someone else.

Watching two hearts sync like that — in glances, in quiet touches, in laughter — reminds us that love still exists. That despite the bruises of adulthood, the jaded layers we accumulate, the walls we build to stay safe, love continues to be born somewhere. And sometimes, if we’re lucky, reborn in us.

Because we were all them once. Or maybe, we still dream of being again.

First love is like spring blooming inside us. A season that never fully fades — even when we’re deep in winter. It lives on, tucked somewhere in memory, like a gentle echo of when love was simple, whole, and a single smile was enough to believe it would last forever.

And maybe, in some way, it always does.

O Encanto do primeiro amor: quando dois corações falam na mesma frequência

sábado, 19 de julho de 2025

Uma crônica sobre o amor aos 18 anos, os olhares cúmplices, as mãos dadas e a doçura de viver o primeiro romance — leve, intenso e cheio de promessas.


Jovens enamorados. Feromônios da juventude no ar e uma cumplicidade que quase se pode tocar. Trocam risadinhas carregadas de segredos, olhares doces que ainda guardam vestígios da infância recém deixada. Como é bonito — quase sagrado — testemunhar o primeiro amor florescendo.

Aos 18, tudo parece possível. O amor não tem rugas, não tem pressa, não tem peso. É leve como o toque de mãos que se encontram pela primeira vez no caminho da escola ou no banco de uma praça. É novo, fresco e intenso como o brilho nos olhos que diz tudo sem precisar de legenda.

Eles andam de mãos dadas como quem segura o próprio universo. Pequeno, seguro, suficiente. Sussurram coisas que ninguém entende, mas que provocam risadas cúmplices, como se estivessem em outro idioma — o idioma de quem ama. De quem está descobrindo agora o que é se doar, se permitir, se perder e se encontrar no outro.

Ver dois corações se apaixonando assim — em silêncio, em trocas de olhares, em toques de leve — é um lembrete suave de que o amor ainda existe. Que, apesar dos tombos da vida adulta, dos cinismos que acumulamos, dos muros que erguemos, ele continua ali: nascendo em alguém, renascendo na gente.

Porque todo mundo já foi um pouco eles. Ou ainda sonha em ser de novo.

O primeiro amor é uma primavera dentro da gente. Um florescer que a gente carrega na memória, mesmo quando já estamos no inverno. Uma lembrança doce de quando amar era simples, inteiro e bastava um sorriso para acreditar que seria para sempre.

E talvez, de algum jeito, seja mesmo.

Disney, não — galinhas no porta-malas: quando aprendi o peso do dinheiro

segunda-feira, 2 de junho de 2025

Os 15 anos que imaginei que poderia ter versus os 15 anos que eu tive 

Como descobri o peso do dinheiro ainda criança — e aprendi que nem todo sonho cabe no orçamento e que a Disney não era para mim.

A primeira coisa que me vem à mente, minha mais antiga memória com dinheiro é do meu pai com um bolo de dinheiro nas mãos e a gente correr para o mercado gastar porque no dia seguinte ele já não valeria mais a mesma coisa. Estávamos nos anos 80, no plano Collor que congelou e sequestrou a poupança de milhares de pessoas no Brasil. A inflação estava fora de controle e os preços eram reajustados diariamente. Por isso o bolo de dinheiro – que não valia muito e valeria menos no dia seguinte – e a corrida desenfreada para garantir os itens de consumo básico antes que aumentassem de preço.

A segunda lembrança que tenho e foi nesse momento que entendi a diferença de classes sociais e que eu fazia parte da classe pobre. No ensino médio eu passei em um processo seletivo para estudar em uma escola de ponta, federal, gratuita. Acontece que nela, a antiga Escola Técnica Federal, hoje Cefet, diferente da minha escola de bairro que estudei a vida toda e tinha em sua grande maioria pessoas da mesma classe social que eu, na ETF havia jovens de todas as classes sociais, pois era uma escola muito requisitada e de prestígio.

Aos 14 anos fiz amizade com uma menina que não me lembro o nome, mas que claramente vinha de uma família com recursos financeiros. Tinha Tamagoshi assim que lançou, os melhores cadernos, estojos e mochila descolados. A minha? Uma horrível, gigante, azul marinho com vermelha que certamente duraria todo meu ensino médio – spoiler: durou.

Essa minha amiga iria ganhar de presente de 15 anos uma viagem à Disney, e como eu também ia fazer 15 anos naquele ano, ela me convidou a me juntar a ela nessa excursão por meio de uma agência de viagens.

Inocente, fui falar com meus pais meus pais que queria esse presente de 15 anos, se hoje eu rio da situação absurda que coloquei meus pais por não ter noção da nossa realidade financeira, na época eu achei que simplesmente era possível um vendedor de espetinho que mal tirava R$ 30 por dia livres e uma secretária escolar bancar uma viagem dessas.

Meu pai, meio desconexo da realidade que nem eu – tenho quase certeza de que ele é bipolar também – coitado ainda foi na agência para ver o valor de quanto sairia esse presente para sua filha primogênita.

Esse mesmo pai que trocou nosso animal de estimação, uma pastora alemã de 5 anos por um porta-malas cheio de galinhas, que vendeu nossa casa no interior por apenas R$ 3.000,00 e, ainda parcelado, foi a uma agência de viagens perguntar o valor de um pacote para Disney.

Não me lembro se eu fui, tenho umas lembranças de ter entrado em uma agência de viagens gigante em Cuiabá, mas pode ter sido de outro momento. Mas acho que fui com ele.

E então, descobrimos finalmente o valor do pacote: R$ 15.000,00 que vejam bem, poderia ser divido em parcelas de R$ 4.500,00 (não lembro quantas). A memória pode estar um pouco nublada, talvez fosse uma entrada alta e o resto em parcelas menores, mas o que descobri naquele dia: isso nunca seria para mim. Não ao menos naquela realidade financeira e classe social que eu existia. Quinze mil reais em 1996 para uma família de 5 pessoas que sobrevivia com o salário de secretária da minha mãe e dos trocados que sobravam da venda de espetinho pelo meu pai. Totalmente fora da nossa realidade! Um sonho praticamente impossível de ser realizado.

Naquele momento eu tive meu grande primeiro choque de realidade. Não culpei meus pais por não serem capazes de me dar esse presente de aniversário de 15 anos, eu entendi que o que eu sonhava estava muito distante da nossa realidade financeira, que mal poderia pagar um bolinho na nossa casa mesmo, cujas paredes sequer tinham tinta, eram apenas cinzas do reboco de cimento.

Hoje, olho para aquela adolescente com ternura. Não fui à Disney, mas viajei por caminhos que ela nem ousava sonhar. Ainda luto todos os dias para romper os muros invisíveis da classe, da origem, da falta. Mas aprendi a transformar ausência em impulso, e frustração em força. Talvez, só talvez, meu passaporte carimbado ainda venha, não como presente, mas como conquista.

Quando o frio soprou pela primeira vez Cuiabá: o inverno que mora em mim

quarta-feira, 28 de maio de 2025

 


Vinte e oito de maio de dois mil e vinte e cinto. O primeiro vento frio chegou a Cuiabá, essa cidade que me abriga desde os nove anos, mas cujo calor escaldante nunca me conquistou. Talvez porque vivamos ao lado do Portão do Inferno. Literalmente.

O céu está cinza e, para mim, isso é belo.

Lá fora, chove. Mas não é uma chuva com ventos, trovoadas, dessas que derrubam árvores ou fazem a energia cair. É uma chuva vertical, reta, contínua, quase uma prece que cai do céu ao chão. Uma cascata delicada que produz o mais delicioso dos sons: o barulhinho de chuva.

O clima pede coberta, vinho, aconchego e até afago. Mas para mim, ele desperta: energia, produtividade, criatividade.

Engraçado que não me lembro de muitos dias específicos da minha infância, mas desse dia eu me lembro com uma clareza tal, como se tivesse ocorrido ontem.

Eu devia ter uns sete, oito anos.

Estava com um vestido vermelho de crochê e uma pochete azul — sim, porque eu era uma fashionista trendsetter desde sempre! Estávamos na parte da frente da casa: eu, meus irmãos, a babá… e um boi. Ou uma vaca. Ou talvez um bezerro — nunca soube ao certo.

Eu me lembro do sol cálido tentando romper as nuvens com uma luz clara, branca. Nada daquele amarelo costumeiro. Essa luz criava pequenos pontos de calor no quintal em muretas, pedras, meu colo. Eu me sentava nesses feixes, procurando abrigo do frio.

Um vento gélido e cortante que era possível sentir na espinha de tão frio que estava aquele dia.

Lembro das pedras de rio, daquelas roliças, que meus pais colocaram em frente de casa, perto da roseira que ficava em um grande vaso de concreto, porque como a luz estava diferente, elas estavam com um brilho especial, iluminadas, mas sem arder os olhos.

Hoje, o que mais se assemelha àquela luz é a lâmpada fria - branca, quase azulada- mas, naquela época, 35 anos atrás, ela vinha direto da natureza.

Ou talvez de Deus.

Acho que foi ali que nasceu o meu amor pelo frio. Ou se não nasceu, foi quando ele se revelou.

Toda vez que o vento gélido volta a soprar por aqui, minha alma começa a se aquecer.

E a felicidade brota, simples, como o barulho de chuva numa manhã cinza.

Bem-vindo, inverno.

Pode entrar.